Em Primeira Cruz, um silêncio ecoa pelas ruas, um silêncio que carrega a marca de despedidas coletivas. No primeiro dia de 2025, o prefeito Guilherme Aguiar assumiu a liderança do município com promessas de renovação e desenvolvimento. Contudo, a transformação anunciada trouxe consigo um impacto humano profundo: a rescisão de contratos de 796 profissionais que, durante dezenas anos, foram parte do tecido social e funcional da cidade.
Primeira Cruz esteve sob o comando de um grupo político consolidado por bastante tempo. O ciclo que se encerrou em dezembro de 2024 foi sucedido por uma gestão que propôs ruptura e modernização. Essa mudança, entretanto, não se limitou a políticas públicas ou planos de governo — alcançou o cotidiano de centenas de famílias, desestabilizando vidas que, por entre quinze e vinte anos, contribuíram para a construção do que a cidade é hoje.
O drama dos profissionais contratados vai além das estatísticas. São pessoas que, em sua maioria, carregam a experiência de uma vida dedicada ao serviço público local. Educadores, técnicos administrativos e educacionais, zeladores, vigias, profissionais de saúde — seus papéis foram cruciais para sustentar o funcionamento da cidade. Agora, enfrentam o vazio de uma despedida abrupta e o temor da incerteza econômica.
“Transformação” é uma palavra que soa grandiosa, mas que, muitas vezes, tem um custo invisível aos olhos da maioria. A decisão de encerrar os contratos, embora tecnicamente respaldada, levanta questionamentos sobre o planejamento e a transição. O peso dessa escolha recai não apenas sobre os diretamente atingidos, mas sobre a rede de relações sociais e econômicas que esses profissionais sustentavam.
A situação também revela as complexidades de gestões públicas em pequenas cidades. Em contextos onde política e trabalho frequentemente se entrelaçam, a mudança de um grupo político pode se traduzir em rupturas drásticas. Para muitos, a vida profissional esteve vinculada a uma administração que ofereceu estabilidade — ainda que não garantisse permanência —, criando laços de dependência que, agora, foram abruptamente rompidos.
Às margens dessa discussão, ecoa a voz do prefeito Guilherme Aguiar, que afirma ser necessário um reordenamento para o progresso da cidade. Contudo, o dilema humano persiste: é possível transformar sem desamparar? A renovação prometida, embora almejada por muitos, pede que se avalie não apenas o destino final, mas também os passos trilhados para alcançá-lo.
O que resta aos profissionais demitidos é um misto de resignação e esperança. Para a cidade, o desafio vai além de reconfigurar seu aparato funcional: passa por resgatar a confiança e criar caminhos de diálogo que permitam construir um futuro no qual transformação e inclusão possam coexistir. Pois, ao final, o progresso de Primeira Cruz não será medido apenas por suas obras e índices, mas pela capacidade de preservar o que é mais valioso: sua gente.
1 Comentários
Triste fim ! Minha mãe é uma dessas demitidas … depois de 16 anos de serviços prestados à saúde de primeira cruz !! Novo prefeito praticando a velha política
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