Em entrevista exclusiva ao INFORMA Primeira Cruz, Guilherme Carneiro faz análises gerais e detalhadas sobre sua visão para diversas áreas na cidade de Primeira Cruz. Atendendo ao nosso pedido, o médico e filho de Primeira Cruz parabenizou o trabalho desenvolvido pelo jornalista Lucio Silva, no sentido de dar vozes à maior pluralidade possível de atores sociais, políticos e culturais na cidade. Confira a entrevista na íntegra abaixo:
A saúde é sempre um desafio para qualquer cidade, especialmente em relação ao atendimento de demandas específicas. Queremos saber sua visão sobre essa questão para garantir o acesso universal e igualitário à saúde para todos os munícipes.
Antes de qualquer coisa, é importante dizer que minhas origens, tanto maternas como paterna são de Primeira Cruz, e essa relação se manteve durante toda infância e adolescência, e já na idade adulta esse vínculo acabou se tornando mais forte devido a minha maior aproximação com as dificuldades da nossa população, principalmente no que se refere a precariedade da saúde pública em nosso município que já vem de longa data. Dói demais para mim, ver nossos conterrâneos continuarem esquecidos pelo poder público local. Como cristão, médico e ser humano, não consigo aceitar que a população padeça da falta de atendimento básico em saúde, da falta de médicos e de medicamentos. O prefeito da cidade tem a obrigação de garantir a prestação dos serviços básicos de saúde conforme determina a nossa Constituição Federal. O governo federal destina recursos para os municípios prestarem atendimentos à população, são as chamadas transferências constitucionais. Primeira Cruz recebeu do Fundo Nacional de Saúde (FNS), de janeiro até julho deste ano, exatamente, R$ 3.815.807,29 (três milhões, oitocentos e quinze mil, oitocentos e sete reais e vinte e nove centavos). É isso mesmo que você está lendo! São mais de três milhões e meio de reais para cuidar da saúde da população. Um bom gestor, com o mínimo de boa intenção teria a obrigação de fortalecer a atenção básica em saúde, garantindo atendimento de qualidade à toda população e ampliação do número de equipes de saúde da família, diferente do que é feito atualmente, onde a equipe de saúde do Campo Novo foi “unificada” com a equipe de Areinhas, além da não ativação de 2 equipes já autorizadas pelo Ministério da Saúde (povoados Matões e Mato Grande) (FONTE. CNES DATASUS), ou seja, a cobertura da saúde que já era péssima, vem ficando cada vez pior. Outro grande problema é a não valorização dos profissionais de saúde, especialmente os agentes comunitários de saúde (ACS) que não tem um plano de cargos e salários bem definidos, transporte adequado para realizar as visitas e não possuem materiais básicos para dar o mínimo de suporte a população mais carente. Recentemente, tivemos a notícia do falecimento de um bebê de poucos meses de vida na Sede de Primeira Cruz. O Ministério Público e a Policia Civil deverá investigar a situação e definir possíveis responsáveis, porém, independentemente desse caso, é inadmissível que o município não tenha nenhum pediatra em seu quadro de médicos para prestar atendimento às nossas crianças. Isso fere, inclusive, as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Portanto, contra fatos, não há argumentos! Muito se tem por fazer pela saúde da nossa Primeira Cruz!
2 - A educação é outro pilar fundamental para o desenvolvimento de nossa comunidade. Nesse sentido, desejamos conhecer sua opinião sobre como investir na educação de Primeira Cruz, visando à melhoria da infraestrutura escolar, formação de professores e desenvolvimento de programas educacionais inovadores.
Acredito que a educação é a base de tudo. Não há como promover desenvolvimento socioeconômico para nossa população sem educação de qualidade. Um dos pilares de fortalecimento da educação, sem dúvida, é o investimento na formação da equipe técnica que atua nos espaços escolares, principalmente formação continuada de professores em serviço, que inclusive é um direito da classe. Aproveito para reforçar que o professor precisa ser valorizado e ter condições de trabalho garantidas. É obrigação do município cumprir a lei do piso salarial e organizar um plano de cargo e progressão funcional factível e amplamente discutido com a classe. Além disso, precisamos fortalecer, na transversalidade, outras políticas públicas como a agricultura familiar e a segurança alimentar, que contribuem diretamente para o bom rendimento dos alunos em sala de aula, além de gerar renda para as famílias. O transporte escolar precário ou a sua ausência, assim como as péssimas condições das estradas vicinais, também contribuem significativamente para a evasão e o baixo rendimento escolar das crianças em Primeira Cruz, por isso mesmo, precisam ser combatidos. O município de Humberto de Campos recentemente, em documento aberto, informou que suspenderia o transporte escolar dos alunos residentes em Primeira Cruz que estudam lá. Isso mostra claramente que a gestão municipal não tem compromisso com a educação do nosso município. Outra ação importante seria a implantação de escola de tempo integral no município, garantindo acolhimento, segurança alimentar e educação de qualidade, possibilitando o desenvolvimento dos nossos estudantes em todas as suas dimensões: física, intelectual, emocional, social e cultural. A prefeitura recebeu, de janeiro a julho deste ano, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), a quantia de R$ R$ 20.247.765,68 (vinte milhões, duzentos e quarenta e sete mil, setecentos e sessenta e cinco reais e sessenta e oito centavos). Recurso existe, e não é pouco! Com capacidade de gestão e vontade política, dá para fazer muita coisa pela educação na nossa cidade.
3 - Além disso, entendemos que a infraestrutura e a mobilidade urbana são temas cruciais para o desenvolvimento sustentável de nossa cidade. Portanto, gostaríamos de ouvir seu ponto de vista sobre a infraestrutura de Primeira Cruz, incluindo estradas, transporte público e urbanização.
O poder público e a sociedade de Primeira Cruz precisam, urgentemente, discutir a cidade. A prefeitura deve perguntar e a população precisa responder a seguinte pergunta: que cidade queremos? Nesse sentido é fundamental que a prefeitura elabore um plano diretor que dialogue com as realidades urbanas e com a população. Somente assim, o poder público conseguirá conciliar os interesses coletivos e garantir um processo de urbanização dos espaços, o direito à cidade e à cidadania. Urbanização e infraestrutura é bem mais do que fazer calçamento “sonrisal” (popularmente chamado) e pintar meio-fio.
Tem-se muito trabalho por fazer; estamos muito atrasados! Dados recentes do IBGE nos mostram que, apenas 8% dos domicílios estão localizados em vias públicas com urbanização adequada, ou seja, com pavimentação, bueiro, calçadas e meio-fio. Estamos falando de aspectos básicos de uma cidade.
4 - O meio ambiente é uma preocupação crescente em todo o mundo, e não é diferente em nossa região. Qual sua ideia para preservação do meio ambiente em Primeira Cruz, equilibrando o desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental e garantindo a proteção das belezas naturais de nossa região?
Quando pensamos na proteção ao meio ambiente, novamente, retomamos as questões relativas à saúde, à infraestrutura e à educação. Infelizmente, apenas 7% dos domicílios da nossa cidade possuem tratamento de esgoto adequado. Esse é um dado alarmante se considerarmos que a falta de tratamento de esgoto, constitui um dos maiores poluidores do meio ambiente. Além disso, a falta de políticas para o tratamento dos resíduos representa risco à saúde da população. Nesse sentido, a falta de tratamento adequado para o lixo doméstico se soma a essa triste realidade, a própria pesca, uma importante atividade econômica para nós, fica prejudicada pela falta de tratamento dos resíduos domiciliares. A relação consorciada entre os municípios da região, parece ser uma das saídas viáveis para solucionar parte destes problemas. Precisamos criar projetos e ações que promovam a coleta seletiva de resíduos, o tratamento dos esgotos domésticos, bem como a correta destinação e tratamento do lixo doméstico. Estas seriam importantes iniciativas para preservar nossas belezas naturais, impulsionar a economia sustentável através do turismo e garantir qualidade de vida para a nossa população.
Essas são apenas algumas questões que gostaríamos de abordar durante a entrevista, mas também estamos abertos a discutir quaisquer outros assuntos que você considere relevantes para compartilhar com a população de Primeira Cruz. Agradecemos imensamente sua disposição para participar desta entrevista e esperamos ter um diálogo produtivo e esclarecedor sobre o futuro de nossa cidade.
Agradeço o espaço para discutir temas de extrema relevância para elevarmos nossa cidade a patamares mais dignos com relação ao desenvolvimento humano e oportunidades, gerando bem-estar a quem realmente importa, o povo. Em momento oportuno apresentaremos com mais detalhes os meios para realizar essa grande transformação proposta. Ao povo de Primeira Cruz, o que peço neste momento é que não se contentem com o mínimo, ou o “pelo menos”, temos que nos tornar prioridades e protagonistas das nossas próprias vidas e não aceitar quaisquer coisa que nos ofereçam, como: escolas inacabadas como a do Campo Novo, Areinhas e Mairi, falta de água e merenda escolar que fazem com que as escolas funcionem somente até meio horário como acontece no Caeté, um salário dividido para dois e até três funcionários, falta de medicamentos no hospital e postos de saúde nos povoados, falta de transporte para pessoas doentes nos povoados que tem que pagar do seu próprio bolso para serem atendidos em cidades vizinhas, e muito mais situações gravíssimas e absurdas que infelizmente ainda fazem parte da realidade do nosso município. Tomem o comando dos seus destinos, escolhas erradas causam consequências desastrosas!
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